HISTÓRIA DE VALENTÃO
Quando eu era menino
Tinha uma vocação
Pois eu achava decente
Um caboclo valentão
Que para onde quer que ia
Num barulho se metia
De cara com uma questão
Eu era declinado
Com isso desde
menino
Pois eu já conhecia
O meu tio Severino
Pra todo lugar que ia
Num barulho se metia
Brigar era seu destino
O homem era perigoso
Brigava pra valer
Dava surra em valentão
De fazer pena de ver
Era brabo na brigada
Nunca achou um camarada
Pra ele não obedecer
Severino gostava
De acabar festa
alheia
Espancava o dono
de casa
Nos outros metia a peá
Corria atrás do porteiro
Chutava o sanfoneiro
Cuspia nas mulheres feias
Se ia pra uma feira
Só aprontava desgraça
Pois fazia os bodegueiros
Pra ele botar Cachaça
Depois cuspia o balcão
Não dava um tostão
E saia achando graça
Ninguém dizia nada
Quem era que se metia
Pois se alguém falasse
Ou apanhava ou morria
Se dissesse aos soldados
Era pior o resultado
Pois ele em tudo batia
Pra enfrentar tio Severino
Não aparecia ninguém
Pois ele ali tinha força
De arribar ate um trem
Era um rei bagaço
Na faca ou no balaço
Nunca temeu a ninguém
Quando eu via falar
Das brigas do Severino
Pensava assim comigo
Quando eu deixar de ser menino
Eu vou e me acolá a
Junto com ele brigar
Seguir também o seu destino
O tempo foi se passando
E eu só ouvia falar
Nas brigas do Severino
Eu comecei me aprontar
Eu digo está na hora
De eu entrar pra história
Dos valentes do lugar
Procurei tio Severino
E a ele eu disse assim
Ou meu tio ouça aqui
Um pedido do seu sobrinho
Pois eu quero-me acolá ia
Mais você para brigar
E seguir nosso caminho
O tio Severino ficou
Na maior animação
Disse certo meu sobrinho
Eu e tu com esse corpaço
Vamos abrir muito azar
Fazer os cabra desta terra
Perder até os calções
E disse e logo amanhã
Vamos acolá uma festa
Disse que lá tem valentão
Vamos vê se ele presta
Quem for duro vai brigar
Os moles vão apanhar
Ou então se desembesta
No outro dia partimos
Eu só pensava no bagaço
Não sabia que por lá tinha
Tinha tal Severo Estaço
Que não mexia com ninguém
Nas não abria nem dum trem
Cheio de barra de aço
Severo Estaço gostava
De uma banca pra vender
Só procura vá com o povo
Grande amizade fazer
Mas se lascava o valentão
Que passasse os pê pelas mãos
E fosse com ele mexer
Chegamos lá nessa festa
Amarramos os animais
Entramos no meio do povo
Sem falar com o pessoal
Nisto começou a festa
Severino disse assim
Parece que vai ser legal
Fomos ate o botequim
Tomamos 2 quarteirões
Aprumei o colina
Ele ajeitou o facão
Logo bem na nossa
Entrada já começou
agredir
Formou se a confusão
Por que nos fomos entrando
Sem como porteiro falar
Ele disse e i meus amigos
Faltar os senhores pagar
Aqui a cota da entrada
Depois e que os camaradas
Podem no salão dançar
Tio Severino Falou você
Não nos sabe quem é
Que pagar coisa nenhuma
Já lhe deu um pontapé
Que com a força de cair
Tio Severino sorriu
Eu disse já sei como é
Tio Severino Falou vamos
Vamos acabar com esse porqueira
Quando apanhamos os facões
Corria gente das esteiras
O tocador se perdeu
Todo o povo ali correu
Pra dentro das capoeiras
Nesta festa nos estava
Fazendo a maior bagunça
Fomos sair bem em cima
Da banca Severo Estaço
Chutamos o seu jaca
Pois ninguém mais tinha lá
Só ele cruzado os braços
Nos ainda conseguimos dar
Uns panos em Severo
Mas ele puxou das calças
Um belo Juca assado
Meteu na cara do tio Severino
Que ele já caiu
dormindo
Ficou de corpo fechado
Nesta altura eu parti
Pra severo estrangular
Ele torceu o corpo de banda
Já remeteu o Juca
Bem no pé do meu ouvido
Que eu caio sem sentido
Fiquei no chão a roncar
Nos demos graças a Deus
Por nos ter acordado
Pois o sono ruim
E o de Juca assado
Quase morremos dessa vez
Pois passamos mais de um mês
Em uma cama prostrado
Não quisemos mais brigar
Depois dessa
ocasião
Meu tio ficou bem quietinho
Deixou de fazer questão
Vendeu até peixeira
E eu larguei a besteira
De querer ser valentão.
POETA- CÍCERO VASCONCELOS