POETA VACILÃO
No tempo que os poetas
Viviam a caminhar
Por esse sertão a fora
Caçando onde cantar
Sempre viajando o dia
Cantando a noite fria
Com a viola na mão
Neste tempo a poesia
Era a maior alegria
Em todo sertão
Certo dia um poeta
Pegou sua viola
Arrumou seu matulão
E saiu de sertão afora
Onde parava cantava
E o povo lhe apreciava
Esse fino violeiro
Cantou em muito lugar
Fazendo o povo alegre
Ganhou bastante dinheiro
Um dia já a tardinha
O violeiro encostou
Numa casa de morada
E pelo dono chamou
Pensando em se arranchar
Pois a noite ia chegar
E ele muito cansado
Pensou assim vou dormir
Amanhã posso sair
Com o corpo desenfadado
Ali gritou: ou de casa
Uma mulher saiu fora
Ele perguntou cadê
O marido da
senhora
Ela disse ele viajou
O que quer meu senhor
Disse ele e me arranchar
Ela disse tá danado
Pois meu marido e zangado
E pode desconfiar
Eu vou lhe dizer
Deixe eu me arranchar
Pois já vai escurecer
E estou quase cansado
Pois muito tenho andado
É e longo o meu caminho
Mas garanto a você
Que quando amanhecer
Eu saio muito cedinho
Ela disse outra coisa
Que eu vou lhe avisar
Pois rede eu só tenho uma
E é a mesma deu me deitar
E pelo que estou vendo
Parece que não vem trazendo
Nem rede pra dormir
Ele lhe disse tem não
Mais durmo em cima do chão
Só quero ficar aqui
Pois daqui pra onde eu vou
É um deserto danado
Ela disse tudo bem
Pois fica sossegado
Eu vou lhe dar um abrigo
Acho que não tem perigo
Você dormir por aqui
Mas já que não trouxe rede
Deite no pé da
parede
E durma por ai
Ele disse obrigado
E ali já foi se deitando
Quando começou a dormir
Acordou ela chamando
Dizendo venha cá
Pode o senhor se
deitar
Num lado da minha rede
Pois fiquei até pensando
Em ver você se deitando
No pé daquela parede
Ali já foi adornado
Passou anoite todinha
O violeiro roncando
Quando o dia clareou
Foi que ele acordou
Já falando em ir embora
A mulher disse esta cedo
Mas ele com muito medo
Já doido pra cair fora
Como era bem cedinho
Ela disse espere ai
Que eu vou fazer um café
Pra você poder sair
Ele ficou esperando
E ali observou
As galinhas do no terreiro
Algo estranho percebeu
Coisa que surpreendeu
O pobre do violeiro
Pois prestando atenção
Ali observou
No meio de poucas galinhas
Trinta cocorocós
Ele ficou abismado
Com o que tinha avistado
Nisto a mulher chamou
O violeiro Marchou
Em direção da cozinha
Quando chegou na cozinha
O café estava na mesa
Ele disse pra mulher
Você pense numa surpresa
Pois eu vi ali fora
Uma coisa que a senhora
Ao poeta encabulou
Vendo ali trinta galinha
Contando ate as franguinhas
E trinta cocorico
A mulher deu uma risada
E disse Ta engado
Pois galo ali só é um
Os outros já são capados
E que a crista eu não cortei
As barbas também não tirei
E dorme no mesmo poleiro
Mas não mexe com as galinhas
São frio a vida todinha
Do jeito dum violeiro
POETA-CICERO VASCONCELOS
EDIÇÃO-FRAZÃOZIM