A RAPOSA E A GALINHA
No tempo que os animais
Chamavam-se camarada
Vivi dona galinha
Com sua filharada
Muito alegre o tempo inteiro
Comendo pelo terreiro
Não tinha medo de nada
Não se atrepava em pau
Dormia mesmo no chão
O gambá não atacava
E nem mesmo o corujão
Correr não era preciso
Vivia no paraíso
Sem passar por aflição
Mas se sabe que a raposa
Possui instinto sagaz
E que ela sempre apronta
Animal outro não faz
Detendo pegada certa
É assim a mais esperta
Dentre todos animais
E certo dia passando
A galinha avistou
Traçando logo um plano
Para perto encostou
Com jeito de falsidade
Disse; bom dia comadre.
Já sabe o que se passou?
A galinha disse: não
Já teve logo um abalo
A raposa assim falou
É que o camarada galo
Tá ali muito doente
E eu vim dizer urgente
Para você ir buscá-lo
Pode ir não se preocupe
Que eu fico como os
pintinhos
Pois se não sabe a
comadre
Eu adoro esses
bichinhos
Vá buscar o seu marido
Pois o mesmo está caído
Dentro de um capim
Caiu naquela cilada
Pensando que a raposa
Fosse mesmo camarada
Fez o papel de esposa
E deixou dona raposa
Com sua filharada
Na hora que a galinha
Dali desapareceu
A raposa muito esperta
Com aquele instinto seu
Olhando para os pintinhos
Disse: que bonitinhos
E um por um comeu
Quando fez aquele crime
Saiu dali bem ligeiro
Ficando ali somente
Muito sangue no terreiro
E a pobre galinha
Não achava coitadinha
Do marido o paradeiro
Sem encontrar o marido
Muito triste voltou
Porem tristeza maior
Foi quando ela chegou
E viu sangue pelo chão
Cortada de aflição
Dessa maneira exclamou
Foi a raposa que fez
Essa grande malvadeza
Comendo os seus filhotes
Não teve delicadeza
Mas Deus do céu esta vendo
E esse ato horrendo
Castigara com certeza
Daquele dia em diante
Só dorme atrepada
E tando com seus pintinhos
Está atenta á cilada
A raposa inimiga
Devida àquela fadiga
E sua maior intrigada
A galinha no poleiro
E só de manhã que desce
O pinto dorme atrepado
Mas somente quando cresce
Sua alegria e medonha
Porem fica bem tristonha
Se a raposa aparece
POETA ANTONIO CARLOS
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